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Capítulo 1 – Jornalismo Esportivo

Breve histórico da cobertura esportiva na mídia brasileira

08.05.2007  |  84 visualizações
Antes mesmo de estudarmos a importância e relevância da cobertura jornalística esportiva, vale ressaltar a origem do esporte propriamente dito, que remete às mais remotas memórias do ser humano.

Como citou Kátia Rubio, “se em determinados momentos históricos a prática esportiva esteve associada ao tempo livre, ao lazer e à profissionalização, sua origem remete à sobrevivência, ao culto dos deuses, e ao cumprimento de rituais, visto a valorização de que desfrutavam as proezas corporais, na forma de danças, ginástica e jogos.

A prática do exercício físico foi fator preponderante para o contexto econômico dos povos primitivos, na medida em que suas atividades de caça, pesca e o desenvolvimento de técnicas rudimentares de cultivo, além de envolver a atividade física necessária para o desempenho destas funções, garantia a sobrevivência do grupo”.

Se teve origem ainda em tempos pré-histórico onde os sentidos e seus instintos ainda guiavam o homem para sua sobrevivência, nota-se que a evolução do esporte se deu de forma tão avassaladora quanto o progresso da humanidade desde então. Mas, se agora o esporte não está tão intimamente ligado à luta pela manutenção se sua própria existência, é a vez desta atividade encontrar-se extremamente relacionada à sociedade e seu constante progresso.

Como afirma a obra de Tambucci, José Oliveira e Coelho Sobrinho, o esporte é considerado um fenômeno sócio-cultural, de dimensão incontestável e, através dos meios de comunicação, pode-se constatar que o esporte tem ocupado, mundialmente, uma posição bastante destacada, o que torna o esporte cada vez mais atraente para investimentos.

A ligação do esporte com a nossa atual sociedade é bastante estudada, conforme o próprio pesquisador francês Joffre Dumazedier sentencia. Ele afirma que “a sociedade de consumo aproveita o tempo livre para impor hábitos, como o esporte” (citação extraída do artigo “Esporte e Crônica Esportiva”, de autoria de Ouhydes Fonseca, professor da Faculdade de Comunicação Social da Unisantos.).

Não é de se estranhar, portanto, que o noticiário esportivo logo aparecesse nos meios de comunicação na medida em que estes últimos iriam ganhando cada vez mais espaço na vida do homem. Ocorro, todavia, que o esporte não recebia o mesmo destaque que hoje podemos verificar em todas as páginas de revistas, TVs, rádios, jornais e, mais recentemente, sites da Internet.

A grande dificuldade da mídia em abrir espaço de seus relatos para o esporte estava justamente ligada a ausência de status social que a atividade possuía. Conforme atesta Fonseca no livro “Esporte & Jornalismo”, até o final do século 19 era assim. Foi graças, portanto, às duas novas formas de mídia que iriam revolucionar o século seguinte, o rádio e a TV, que impulsionaram a presença do esporte nos meios de comunicação em geral, pois “deram nova dimensão ao fato esportivo com suas características de instantaneidade, imagem e cor”.

Por isso, pode-se afirmar que o fenômeno do jornalismo esportivo é relativamente recente, já que antes desta massificação das mídias eletrônicas, suas notícias se encontravam misturadas à cobertura jornalística de outras editorias.

Esta breve história talvez explique o porquê de poucas obras tratarem de um assunto que hoje parece com tanto destaque em nosso cotidiano, mas os autores estudiosos desta área são unânimes em afirmar que o preconceito com o jornalismo esportivo marcou o início do desenvolvimento desta área.

Como colocou muito bem Paulo Vinícius Coelho, “durante todo o século passado, dirigir redação esportiva queria dizer tourear a realidade. Lutar contra o preconceito de que só os de menor poder aquisitivo poderiam se tornar leitores deste tipo de diário. O preconceito não era infundado, o que tornava a luta ainda mais inglória. De fato, menor poder aquisitivo significava também menor poder cultural e conseqüentemente ler não constava de nenhuma lista de prioridades.”

É interessante notar que outro autor estudioso do tema, Ouhydes Fonseca, também utiliza não apenas o termo preconceito, mas também destaca o jornalismo esportivo como uma espécie de “filho bastardo”, não sendo, no entanto, ele o único a estar nesta marginalidade da notícia, já que o jornalismo policial também se encontrava em situação bastante semelhante. Em meio a tanto preconceito e com uma história de vida tão curta, o crescimento do jornalismo esportivo nos últimos anos de fato é significativo.

Segundo o pesquisador Edouard Seidler, em tema apresentado no livro “Esporte e Jornalismo”, a história desta cobertura esportiva é bastante recente, muito embora, como ele próprio ressalva, algumas obras clássicas da literatura mundial também enfocam em suas páginas o que hoje conhecemos por jornalismo esportivo, citando inclusive o caso de Homero, que teria sido o primeiro “cronista” desta área ao narrar a corrida em que Ulisses venceu Ajax, na Ilíada.

De forma mais oficial e forma, no entanto, o estudioso acredita que esta área específica de mídia tem origem creditada ao periódico Le Sport, em 1854.

Engana-se, no entanto, que os grandes esportes de massa que conhecemos hoje em dia já apareciam nas páginas do jornal francês. O noticiário era composto principalmente por crônicas de temas que hoje pouco aparecem na mídia, como caça, pesca, bilhar e outros esportes que, embora ainda hoje recebam tratamento no jornalismo diário, têm espaço bastante escasso e publicação proporcional apenas em épocas de jogos Olímpicos, como natação, canoagem, boxe e turfe.

A diferença é facilmente explicada já que o noticiário focava justamente os esportes em voga a sociedade daqueles meados de século 19. Vale lembrar que duas das principais competições globais que reúnem bilhões de espectadores hoje em dia (a Copa do Mundo e a Fórmula-1) eram inimagináveis naquela época: o primeiro torneio de futebol mundial organizado pela FIFA aconteceu em 1930, no Uruguai, ao passo que as corridas de automóveis só se tornaram popular depois da Segunda Guerra Mundial, em especial depois de 1950, quando foi criada a Fórmula-1.

Por isso mesmo, o maior destaque inicial da cobertura esportiva começou mesmo com o hipismo nos veículos impressos da França, que, como vimos anteriormente, é a pioneira neste tipo de cobertura e que até hoje possui papel de destaque, já que um dos maiores periódicos esportivos da atualidade é justamente o “L’Equipe”.

O periódico francês influenciou o surgimento de vários outros jornais segmentados nesta área pelo mundo, em destaque o “Gazzeta dello Sport”, na Itália, e mesmo revistas especializadas, como a hoje célebre “Sports Ilustratted” _esta contaminação logo chegará ao Brasil, como veremos adiante.

Embora o surgimento do primeiro periódico especializado tenha se dado em 1885, apenas duas décadas depois é que os jornais da grande imprensa começaram a abrir espaço para o esporte, que, como já foi citado, era considerado “um tema inferior” e por demais relacionado às classes baixas da sociedade.

Por isso, como aponta Ouhydes Fonseca, foi necessário que o patrocínio das elites fizesse com que o tema chegasse ao grande público, despindo-se um pouco do preconceito que ele ainda embutia. Neste contexto, o destaque é para o Barão Pierre de Coubertin, membro da aristocracia francesa e que daria um novo impulso à sociedade moderna com o seu neo-olimpianismo, trazendo da Grécia Antiga uma nova valorização do esporte e da competição.

Aqui um breve parênteses se faz necessário: foi o próprio Barão Pierre de Coubertin, além de trazer de volta os Jogos Olímpicos, também é creditado à autoria de um dos lemas mais utilizados pelo esporte mundial, o de que “o importante é competir”. E foi com a fundação de sua publicação “Revue Athletique” que o barão abriu a porta da imprensa para os esportes.

Também é interessante notar que o próprio Coubertin também deu origem a um processo que hoje marca a rotina do jornalismo esportivo e também da relação dos esportes com a sociedade moderna: o elo entre a competição e o patrocínio e uso da imagem do esportista, conforme destaca Pascoal Tambucci.

Já no ano de 1896, tem-se notícia de um acontecimento que, embora embrionariamente, estabeleceu a relação de patrocínio e imagem. Em Atenas, quando o Barão Pierre de Coubertin encontrava dificuldades financeiras para organizar os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, contou com Georgeous Averoff, arquiteto renomado e enriquecido que, através de seus próprios recursos, garantiu a realização das competições. Houve a participação de 311 atletas e público estimado de 280 mil pessoas.

Representou uma oportunidade para centralizar a atenção da sociedade para o grande feito, revivendo “o espírito da Olimpíada Grega que, além do caráter competitivo, possuía significado religioso”, como bem apontou Tambucci em sua obra.

Com o início do apoio da aristocracia francesa à cobertura esportiva na grande imprensa e, no final do século, do resgate à tradição grega dos Jogos Olímpicos, o esporte aos poucos se difundiu na mídia, tendo, num primeiro momento, um caráter bastante didático, conforme aponta o estudo de Fonseca.

A aposta inicial destes periódicos era oferecer informação e ao mesmo tempo conseguir explicar sobre como praticar os mais variados esportes.

Por isso, esta área específica do jornalismo começou a ganhar mais autonomia a partir da década de 1920, embora, como se veria mais tarde no período da Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945), as tiragens e circulações fossem reduzidas como um todo. Foi justamente depois deste tenso período que o jornalismo esportivo ganhou linguagem própria, recebendo novo status, sobretudo na França, onde os autores mais reconhecidos da literatura do país começavam a produzir os primeiros livros sobre o assunto.

Em “Journalism Sportif”, o autor Pierra Descaves comentava, na ocasião: “as trocas constantes entre essa literatura e a imprensa esportiva trouxeram para esta última a força que ela necessitava no plano intelectual. A imprensa esportiva na França é a imagem da lenta tomada de consciência das massas sobre o valor do esporte.

Numa sociedade onde o esporte tomou importância tão grande, é normal que, pouco a pouco, as colunas esportivas sejam uma fonte de documentos para a glória do esporte. O que importa também não é a quantidade, mas a qualidade. Para os historiadores do futuro, o esporte só tomará seu verdadeiro lugar em nosso tempo na medida em que ele inspirar obras dignas de serem recolhidas e admiradas”.

Como se vê, a essência do jornalismo esportivo em seu início de vida estava essencialmente ligada à literatura e não por acaso foi o formato da crônica que marcou os primeiros anos de sua existência. Como mostram dados do artigo de Fonseca, o primeiro órgão esportivo que faria um jornalismo de cobertura de eventos, e não apenas excessivamente crônico, seria a “Bell’s Life”, de origem inglesa _que passaria a ser chamado posteriormente de Sporting Life.

O jornalismo esportivo começava a expandir suas fronteiras e, ao começar a ganhar destaque não apenas na língua francesa mas também em inglês, como mostra a Bell’s Life, não tardou muito e esta área também começou a se destacar nas Américas, onde nos Estados Unidos passou a ter mais importância a partir da década de 1920, mais ou menos no mesmo período em que a produção brasileira começou a ganhar contornos notórios.

Segundo Paulo Vinícius Coelho, em sua obra “Jornalismo Esportivo”, já na década de 1910 a divulgação desta área começava a ganhar páginas no jornal “Fanfulla”. Como no fenômeno que se viu anteriormente acontecia em todo o mundo, o início do jornalismo esportivo brasileiro também se deu voltado às classes sociais menos favorecidas, já que o jornal citado não era voltado às elites, mas sim a um público que se tornava cada vez mais numeroso na São Paulo que naquela época saia de seu provincianismo do século passado para se tornar uma metrópole industrializada: os italianos.

Curioso citar, inclusive, que são destas páginas esportivas do “Fanfulla” que é atribuída a fundação do clube de futebol Palestra Itália, que se tornaria o Palmeiras décadas mais tarde (a mudança do nome ocorreu no meio da Segunda Guerra Mundial).

No entanto, mesmo com esta íntima relação com o esporte que viria a se tornar o mais popular do país _e também do planeta, a cobertura esportiva ainda era vista com desconfiança em seus primeiros anos de existência no Brasil, inclusive de pessoas renomadas ligadas ao jornalismo e a literatura.

“Futebol não pega, tenho certeza; estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho”. Provavelmente nenhum palpite de comentarista da Copa do Mundo de 2002 foi tão furado quanto o do escritor Graciliano Ramos, no inicio do século 20. Graciliano parecia convencido de que o jogos dos ingleses não conquistaria adeptos no Brasil. Talvez o maior engano da história do esporte brasileiro”, citação esta extraída da obra de Paulo Vinícius Coelho, de 2004.

No livro “Jornalismo & Esporte”, outros autores também reforçam esta dificuldade inicial vivida pela área de cobertura esportiva no país. Como no restante do mundo, a elite também teve papel importante para que este quadro se revertesse no Brasil e, com seu interesse pelo tema, fez com que escritores e jornalistas mais respeitados se dedicassem a trabalhar sobre o assunto.

Outro fator importante neste período foi a popularização do rádio, a partir de 1933, e com isso as notícias de esporte passaram a ser mais difundidas. Com exceção de O Estado de S. Paulo, que só se rendeu à novidade posteriormente, os outros jornais começaram a valorizar mais o assunto a partir do final dos anos 1920 e início dos anos 1930, com especial destaque ao jornal “A Gazeta”.

Jornal, que, de forma pioneira, começou a publicar uma edição esportiva todas as segundas-feiras desde 1928. O estudioso também ressalta que o futebol e sua rápida popularização contribuíram muito para que o jornalismo esportivo se difundisse rapidamente no Brasil, além também do aparecimento da televisão, na década de 1950, que obrigou os jornais a abordar de forma melhor o tema, e não ser simplesmente uma “ata dos acontecimentos esportivos” justamente por ter a concorrência da nova mídia eletrônica _em que o rádio também exercia papel fundamental.

Paulo Vinícius Coelho também enfatiza esta análise, acrescentando que foi justamente no Rio de Janeiro, cidade capital não apenas administrativa mas também econômica nas primeiras décadas do século XX, onde se começou a ganhar um jornalismo esportivo de maior conteúdo, com a popularização dos clubes de futebol carioca.

Não por acaso, foi nesta cidade que surgiu, nos anos 1930, o primeiro diário dedicado exclusivamente aos esportes no país, o “Jornal dos Sports”, cujas notícias e projeto gráfico até hoje são inspirados em sua primeira fonte, o italiano Gazzeta dello Sport.

Revistas e jornais de esporte foram surgindo e desaparecendo com o passar dos anos, com destaque também para o carioca “Revista do Esporte”, já no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Apesar da certa instabilidade de alguns periódicos, o jornalismo esportivo começou a se solidificar bastante também na mídia impressa diária.

“Só no fim da década de 1960, os grandes cadernos de esportes tomaram conta dos jornais. Ou melhor, em São Paulo, surgiu o Caderno de Esportes, que originou o Jornal da Tarde, uma das mais importantes experiências de grandes reportagens do jornalismo esportivo”, como escreveu o “PVC”.

Este processo de invasão do esporte aos jornais diários também é descrito na obra “Esporte & Jornalismo”, mostrando que os grandes periódicos investiram em espaço, pessoal e viagens para grandes coberturas. O autor explica que isso “inibiu os jornais especializados, mas favoreceu o nascimento de revistas especializadas para públicos específicos”.

Embora conquistasse seu espaço, o jornalismo esportivo ainda encontrou barreiras em um outro preconceito _este que muitos autores consideram presentes até hoje em parte da mídia brasileira. Fonseca lembra que, passada a primeira fase (da literatura), a área enfrentava agora a marginalização decorrente da entrada de profissionais sem nenhuma experiência.

Sim, geralmente sobra para os chamados “focas” (nome como são conhecidos os novos jornalistas que chegam nas redações, gíria utilizada para demonstrar rótulo de quem se impressiona facilmente, como uma foca), trabalhar na cobertura esportiva, sob o argumento de que qualquer um poderia escrever algumas linhas sobre esporte, em especial o futebol.

“A maior liberdade de ação do repórter esportivo, mais concedida do que propriamente conquistada, se levado em conta o sistema social brasileiro, levou-o a ser considerado como um alienado, que não saberia fazer a ligação entre sua área de ação e o contexto geral da sociedade”, escreveu Ouhydes Fonseca em 1997.

Depois de superar dois grandes preconceitos _inicialmente, no começo do século, quando a prática esportiva era considerada socialmente inferior, e depois, com a marginalização de seu profissional, o jornalismo esportivo se consolidou a partir da década de 1970, quando também se data a regulamentação profissional da área.

Paulo Vinícius Coelho também destaca que hoje a “noção de realidade que o jornalismo esportivo carrega nos tempos atuais torna a cobertura esportiva tão brilhante como a de qualquer outra no jornalismo.” Inclusive, para reforçar seu pensamento, o autor cita casos de “celebridades” na profissão que tiveram a carreira intimamente ligada com a atuação na cobertura esportiva, caso de Joelmir Beting, Alberico Souza Cruz e Armando Nogueira, todos com posição de destaque na história do jornalismo brasileiro, com atuações como o cargo de editor-chefe do Jornal Nacional, da TV Globo, caso de Nogueira, por exemplo.
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